6 de jan. de 2009

"Erva daninha", o mal da minha gente

Minha terra é conhecida nacionalmente como terra do feijão, localizada na zona fisiográfica da chapada Diamantina. Sua população é de aproximadamente 62.676 habitantes, um povo guerreiro e esperançoso.
Minha gente é assim: Carente, esquecida, excluída. A maioria dos jovens da minha comunidade vê a vida através de um cigarro de maconha, são vitímas do descaso social. A fome, a desestruturação familiar, o abandono político acompanham a comunidade do Baixão de Sinésia há alguns anos.
É indiscutível, mas nos últimos anos a única coisa que tem brotado nesse cenário árido é a "erva daninha" das drogas que tem destruido e marginalizado nossos adolescentes. Cenas chocantes acontecem todos os dias: mortes, roubos, prostituição, aliciamentos, tráficos... Conscientemente, faço-me diversas perguntas, mas apenas uma permanece insistentemente. De quem é a culpa? Penso que todos são reféns dessa sociedade capitalista, brutal e desumana, que discrimina, marginaliza e destrói a vida dos nossos jovens que sem nenhuma perspectiva criam um caos violento na sociedade.
Relatório divulgado em 2007 pelo Escritório das Nações Unidas contras as drogas e crime, indica que cerca de 160 milhões de pessoas entre quinze e sessenta e quatro anos fumam maconha.
É comum observar hoje como a maioria dos jovens encontra no tráfico uma alternativa de sobrevivência. Desconfortavelmente presenciamos a maconha, a cocaína, a bebida destruindo muitas famílias.
Sem dúvida é no mínimo curioso como as drogas tem virado epidemia entre os jovens, não só nas favelas como nos centros urbanos, escolas e universidades.
Está clara a fragilidade da nossa gente diante dessa realidade, não fomos habilitados para gerenciar essas situações, não entendemos as causas, e por isso, jovens, crianças e adolescentes marginalizam-se e matam. Mata você, eu, nossas famílias, eles mesmos. Somos todos reféns. Elite dos marginais, marginais da elite, do sistema, do governo...
O tráfico tem feito muitas vítimas, diariamente inúmeras famílias têm sido abraçadas pelas armadilhas de um inferno de sombras e alucinações. As bombas estão sendo criadas, várias explosões já aconteceram; assassinatos, vandalismo, sequestros. Não dá mais para sentar nos bancos da praça e contemplar o por do sol ou sentir a brisa suave roçar nossas faces, nossas casas mais parece presídios com grades por todo lado.
Parece-me que todos estão engajados em resolver inúmeras questões em nossa terra, mas ninguém se pronuncia sobre alternativas que dêem um fim ás bocas de fumo e á violência, assim as gangues vão se formando, as crianças e adolscentes experimentam dólar de maconha, embriagam-se de cocaína todos os dias.
Parece-me que a sociedade, mesmo apavorada, adormeceu. Educadores, coordenadores, diretores fogem dessa realidade, os políticos foram teletransportados ao mundo do faz de conta e suas metas de governo passam longe desse panorama.
Finalizando, gostaria de deixar claro que necessitamos romper as barreiras do "tô nei ai" e abrir portas da inclusão social, garantindo que nossa gente se descubra protagonista de suas próprias vidas.

Segundo lugar no concurso literário de 2008. Simone Nunes