30 de mai. de 2010

Os sabores da vida


Meu dia começou com uma manhã fresca. Na Rua Jota, a criançada brincava de gude, as mães varriam suas calçadas. O cenário era o mesmo, porém, algo estranho acontecia diante dos meus olhos. As cenas corriqueiras, de repente ganharam um novo sabor, um significado especial. Enxerguei a rua com outros olhos, parecia um parque de diversões, onde todos concretizavam seus desejos. Senti um sabor inusitado em cada cena observada.

Contemplei o céu, coisa que não fazia há muito tempo, ele, também estava mudado. As nuvens branquinhas pareciam bolas de sorvete de coco. A calda adocicada, era azul celeste, a mesma reacendia a beleza do momento e, intensificava o meu incontrolável desejo de saboreá-lo, não resisti, degustei aquela delícia de coco, pacientemente.

Ao contrário da manhã, a tarde estava escaldante, azeda. Observei o céu e, notei que as nuvens tinham desaparecido, o que restava era a calda azul, derretida. O sol estava quente, trêmulo. Observei que as pessoas andavam apressadas, algumas tinham uma leveza no olhar, outras, porém, pareciam nervosas, estressadas. Entretanto, não me recusei a experimentar. Degustei a tarde. Bebi um suco quente e, azedo. Mas, Graças a Deus a degustação foi coletiva, as minhas amigas também puderam sentir o gosto quente, insípido, venenoso, daquela tarde brutal. Juntas, experimentamos o sabor da ignorância, da prepotência de uma rainha em decadência no seu castelo fétido, azedo e mofado.

É impossível fazer um controle alimentar diante das extravagâncias gastronômicas. Não sabemos identificar o que sentimos quando nos damos a honra de sentir, saborear. Porém, estamos condenados a viver experimentando os sabores da vida. Naquela tarde desumana, percebi que estávamos com um desejo incontrolável de devorar canibalmente aquela criatura truculenta.



Nenhum comentário: